sábado, 15 de janeiro de 2011


 A CULPA É DO HOMEM

Mais de 500 mortes já foram registradas no Rio neste verão, e não há como responsabilizar a natureza. Da Redação CartaCapital. Foto: Marino Azevedo/ AFP
Polícia Militar reprime manifestantes em ato contra aumento das passagens

Por Paula Salati

A manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo que ocorreu nesta quinta-feira, dia 13/01, no centro de São Paulo, sofreu violenta repressão da Polícia Militar, com direito a balas de borracha, gás de pimenta e cassetetes.
O ato, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), começou a reunir manifestantes por volta das 17h em frente ao Teatro Municipal e tinha o objetivo de “barrar o aumento da tarifa de ônibus, que traz consigo um aumento da exclusão no sistema de transporte público”, relata o militante do MPL, Leonardo Cordeiro.
A passeata reuniu cerca de 1.000 pessoas, entre os quais estavam presentes estudantes, trabalhadores e integrantes de movimentos sociais. Leonardo conta que o ato começou pacificamente e que as palavras de ordem eram aplaudidas por comerciantes durante o trajeto. Foi na Avenida Ipiranga, perto da Praça da República, que se iniciou o conflito entre policiais e manifestantes sob o argumento militar de que era inadmissível a interdição da via.
“Devido ao tamanho do protesto, era impossível não interditar a via (...) continuamos o nosso trajeto, mas assistimos um conflito isolado entre um manifestante e policiais transformar-se em pretexto para o início de agressiva repressão policial, majoritariamente pela Força Tática”, diz Leonardo.
Durante o protesto, uma pessoa foi detida, porém viaturas da polícia militar rondaram o centro da cidade prendendo manifestantes que andavam em pequenos grupos ou que tentavam rearticular a passeata. Nessa operação, 30 foram presas e soltas na madrugada do dia 14.
A polícia militar utilizou contra os manifestantes armas como bombas de gás lacrimogênio e de efeito-moral, cassetetes, balas de borracha e sprays de pimenta, estes últimos letais em pessoas com problemas respiratórios, problemas cardíacos e mulheres grávidas, que também estavam presentes no protesto.
Mais do que protestar contra o aumento da passagem, o MPL é um movimento que se coloca como defensor de um transporte efetivamente público e gratuito, que possa ser gerido de forma democrática, “com participação dos usuários e dos trabalhadores do setor. Somente assim poderá haver um salto na qualidade e na organização do sistema de transporte público”, afirma Leonardo.
O aumento da tarifa foi anunciado pelo prefeito Gilberto Kassab no final do ano passado, com uma alta de 11,11% - representando o dobro da inflação acumulada de 2010, que ficou em 6,4%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). O preço da passagem, passado de R$ 2,70 para R$ 3,00, representa mais exclusão da maioria da população que depende do transporte público para se locomover. Segundo notícia publicada no dia 12/01 no site do jornal Brasil de Fato, além da capital de São Paulo, mais regiões do país aumentaram a tarifa dos ônibus municipais, como São Caetano (SP), Diadema (SP), Guarulhos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Santo André (SP), Vitória (ES), Joinville (SC), Ijuí (RS) e Recife (PE).

Fonte: Revista Caros Amigos

Menos demagogia para alcançar as causas do desastre

Por Aspásia Camargo*
O pesadelo retorna, e redobrado, com as chuvas de verão. Sempre as mesmas desgraças. E tratadas com a mesma negligência. Em geral, existe um grande interesse pelas vítimas e suas perdas e nenhuma atenção às causas de tais calamidades. Mas agora parece que a opinião pública acordou de seu longo torpor e começa a se interessar por uma solução mais racional e adequada. Vamos ter que levar a sério o aumento de frequência e intensificação das chuvas, provocado pelas mudanças climáticas.
As recomendações da Conferência das Partes da ONU são claras: aplicar o princípio da “mitigação” para eliminar as causas do aquecimento global; e o da “adaptação” para fortalecer a proteção física das áreas vulneráveis, já identificadas pelo meteorologista Carlos Nobre. Tese de mestrado defendida na UFF pela médica bombeira Edna Maria de Queiroz revela que 60% das catástrofes naturais são de origem hídrica – enchentes e deslizamentos -, mas até agora nada fizemos para planejar ações de controle e prevenção nas bacias hidrográficas, evitando o assoreamento e protegendo as matas ciliares dos rios.
A urbe se expandiu aprisionando e desprezando a natureza – precisamos nos reconciliar com ela. As cidades sustentáveis são hoje parte de uma nova agenda civilizatória, exigindo mais segurança, melhor circulação, menos desperdício e mais qualidade de vida. A impermeabilização do solo tem efeitos nefastos que podem ser mitigados com a multiplicação das áreas verdes e garantia de vegetação nas encostas.
O paralelepípedo em vez do asfalto nas ruas e as pedras portuguesas na calçada são medidas que permitem melhor escoar a água, sem dispensar a manutenção de uma rede de águas pluviais e bueiros limpos que impeçam a formação de rios urbanos – como o que vimos correr a 100 km por hora em Franco da Rocha (SP). Moacyr Duarte, da Coppe, sugere certificados de habitabilidade para evitar ocupações em áreas impróprias. Afinal, não é apenas a construção que molesta o ecossistema, diz ele, mas o ecossistema que ataca as construções que o molestam.
Quanto à adaptação, é importante saber que 80% das perdas materiais e humanas acontecem nos três primeiros dias do desastre, momento em que o poder público, desprevenido, está desarticulado e impotente. De fato, inexistem planos de contingência e gerenciamento de crises. Além do mais, a articulação federativa é precária e demagógica. O que precisamos agora é de educação ambiental para nossos governantes, menos improvisação e populismo e mais vigilância da cidadania.
A lei que reduz as emissões de gases de efeito estufa do município em 20% até 2020 é um bom começo.
*Aspásia Camargo é deputada estadual e autora da Lei de Mudanças Climáticas do município do Rio de Janeiro .
Publicada originalmente no site da Envolverde